Ana Maio
Teresa Lenzi
Roseli Nery
Michael Chapman
De 7 a 27 de agosto de 2008
Entremeios e variedades
Entremeio: S.m. 1. Aquilo que está de permeio; intermédio. 2. Espaço, ou espaço de tempo, entre dois extremos; intervalo...
Entre.meios é o título da exposição anual dos professores do Curso de Artes Visuais-Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande que ocorre desde o ano de 2006. O objetivo desta atividade é apresentar e compartilhar com a comunidade universitária e riograndina uma amostra parcial dos trabalhos desenvolvidos por este corpo docente. Sua importância reside no fato que, ainda que parcial, a mostra é sempre representativa dos diversificados interesses que movem estes docentes em suas investigações nas mais diversas disciplinas e áreas artísticas.
Entre.meios, excelente opção para intitular a exposição de um conjunto de práticas artísticas contemporâneas, de um grupo de pessoas que compartilham um tempo histórico marcado pela velocidade, complexidade, diversidade e multiplicidade. E nenhum nome poderia ser mais apropriado para referir-se e ou caracterizar as práticas artísticas atuais que, em geral, comungam apenas o fato de trabalhar com a variedade. Beatriz Sarlo1, já há algum tempo utilizou esta expressão para designar a arte contemporânea, entendendo que a arte da variedade seria a arte que ‘(...) Cruza e sobrepõe realidades diferentes entre si: cultura de massa, grandes tradições estéticas, culturas populares, linguagens próximas do cotidiano, tensão poética, dimensões subjetivas e privadas, paixões públicas (...). Seria a arte na qual cada artista ‘(...) possui estratégias próprias para escolher matérias e deliberar sobre formas, suportar limites ou transgredi-los, falar ou calar-se diante da própria produção.’ Seria ainda a arte na qual ‘(...) a variedade instaura-se porque os artistas trabalham com instrumentos que são aprendidos, modificados ou inventados individualmente; porque alguns experimentam a plenitude do significado e outros não têm certeza de que algo possa ser de fato dito; porque há uma rede invisível de experiência e cultura, de razão e imaginação, de coisas sabidas e de coisas que jamais serão sabidas, diferente para cada um’.
E esta é a ‘realidade’ do conjunto de ações e práticas artísticas que compõem o cenário daquilo que, na ausência de uma definição mais precisa, denominamos como arte contemporânea: uma ‘arte’ ‘(...) que sabe "estar no meio": entre as várias disciplinas artísticas, entre o objeto estético e aquele comercial, pois é nos intervalos entre um campo e outro que se encontra uma energia intensa e estimulante’. E assim é de fato como se delineia o contingente das práticas artísticas na atualidade: sem programas definidos, sem fronteiras estilísticas ou ideológicas, integradas ao sistema que tais práticas ao mesmo tempo questionam e tentam compreender; experiências abertas às possibilidades socioculturais.
O conjunto das obras apresentadas na exposição Entre.meios 2008 corrobora estas especulações. Roseli Nery cria peças a partir de atividades rotineiras e objetos comuns, revelando um olhar delicado sobre coisas aparentemente insignificantes deste que é o nosso cotidiano rápido, mediatizado e pasteurizado.
José Antonio Vieira Flores expõe uma composição, sem título, executada a partir de imagens fotográficas tratadas em meio digital e impressa em suporte vinílico.
Teresa Lenzi apresenta uma peça videográfica intitulada ‘Es que al final solo quedan imágenes, imágenes, imágenes...’ na qual enfoca e a partir da qual indaga sobre a importância dos acontecimentos reais diante de uma realidade predominantemente imagética, virtual e fugaz.
Cleusa Peralta Castell expõe infografias que fazem parte de um conjunto de ilustrações que elaborou para um livro publicado pelo NEMA - e que estão inevitavelmente ligadas às experiências e pesquisas de caráter pedagógico e socioambiental que desenvolve.
Michael Chapman, por sua vez, elege dentre seus trabalhos, os pôsteres infográficos concebidos a partir do propósito de dialogar em situações de conflito estético, ideológico e lingüístico (uma atividade que vinha desenvolvendo no Exploding Galaxy, exemplificadas nas declarações ‘Não existem dois elefantes iguais’, ‘Eu sou Não Sou’ e ‘Meu nome é Sem Nome’).
Ana Maio participa com o vídeo intitulado “O que resiste ao tempo?”, uma montagem construída a partir de frases-cartazes que recebeu de presente da artista Maria Ivone dos Santos.
Claudio Maciel, por seu turno, apresenta Dreamspeed I. Quatorze peças, de dimensões variadas, em fotografia digital, compostas pela justaposição e ou sobreposição de duas ou mais imagens provenientes de realidades distintas: uma vista do interior numa manhã com neblina, outra da imagem reproduzida sobre a superfície de uma lâmina de alumínio numa manhã de sol.
Ivana Maria Nicola Lopes traz à luz nesta exposição, objetos de sua história pessoal. Objetos carregados de memória como um muito antigo caderno de desenho encontrado em uma gaveta, e miniaturas do cotidiano.
Marcelo Calheiros expõe algumas peças da série denominada ´... a pele da minha infância...!. São objetos (opacos e translúcidos) transformados e reestruturados (forma, função, estética) a partir do uso da massa de modelar e das condições do lugar onde serão serem colocados.
Enfim, está é uma exposição constituída de práticas artísticas aparentemente muito diferentes entre si, mas que tem em comum, de uma maneira ou de outra, o fato de que atuam na variedade e na ausência de fronteiras disciplinares, e especialmente se encontram conectadas às circunstâncias e problemáticas estéticas e socioculturais contemporâneas.
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Teresa Lenzi
Julho 2008
Entremeio: S.m. 1. Aquilo que está de permeio; intermédio. 2. Espaço, ou espaço de tempo, entre dois extremos; intervalo...
Entre.meios é o título da exposição anual dos professores do Curso de Artes Visuais-Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande que ocorre desde o ano de 2006. O objetivo desta atividade é apresentar e compartilhar com a comunidade universitária e riograndina uma amostra parcial dos trabalhos desenvolvidos por este corpo docente. Sua importância reside no fato que, ainda que parcial, a mostra é sempre representativa dos diversificados interesses que movem estes docentes em suas investigações nas mais diversas disciplinas e áreas artísticas.
Entre.meios, excelente opção para intitular a exposição de um conjunto de práticas artísticas contemporâneas, de um grupo de pessoas que compartilham um tempo histórico marcado pela velocidade, complexidade, diversidade e multiplicidade. E nenhum nome poderia ser mais apropriado para referir-se e ou caracterizar as práticas artísticas atuais que, em geral, comungam apenas o fato de trabalhar com a variedade. Beatriz Sarlo1, já há algum tempo utilizou esta expressão para designar a arte contemporânea, entendendo que a arte da variedade seria a arte que ‘(...) Cruza e sobrepõe realidades diferentes entre si: cultura de massa, grandes tradições estéticas, culturas populares, linguagens próximas do cotidiano, tensão poética, dimensões subjetivas e privadas, paixões públicas (...). Seria a arte na qual cada artista ‘(...) possui estratégias próprias para escolher matérias e deliberar sobre formas, suportar limites ou transgredi-los, falar ou calar-se diante da própria produção.’ Seria ainda a arte na qual ‘(...) a variedade instaura-se porque os artistas trabalham com instrumentos que são aprendidos, modificados ou inventados individualmente; porque alguns experimentam a plenitude do significado e outros não têm certeza de que algo possa ser de fato dito; porque há uma rede invisível de experiência e cultura, de razão e imaginação, de coisas sabidas e de coisas que jamais serão sabidas, diferente para cada um’.
E esta é a ‘realidade’ do conjunto de ações e práticas artísticas que compõem o cenário daquilo que, na ausência de uma definição mais precisa, denominamos como arte contemporânea: uma ‘arte’ ‘(...) que sabe "estar no meio": entre as várias disciplinas artísticas, entre o objeto estético e aquele comercial, pois é nos intervalos entre um campo e outro que se encontra uma energia intensa e estimulante’. E assim é de fato como se delineia o contingente das práticas artísticas na atualidade: sem programas definidos, sem fronteiras estilísticas ou ideológicas, integradas ao sistema que tais práticas ao mesmo tempo questionam e tentam compreender; experiências abertas às possibilidades socioculturais.
O conjunto das obras apresentadas na exposição Entre.meios 2008 corrobora estas especulações. Roseli Nery cria peças a partir de atividades rotineiras e objetos comuns, revelando um olhar delicado sobre coisas aparentemente insignificantes deste que é o nosso cotidiano rápido, mediatizado e pasteurizado.
José Antonio Vieira Flores expõe uma composição, sem título, executada a partir de imagens fotográficas tratadas em meio digital e impressa em suporte vinílico.
Teresa Lenzi apresenta uma peça videográfica intitulada ‘Es que al final solo quedan imágenes, imágenes, imágenes...’ na qual enfoca e a partir da qual indaga sobre a importância dos acontecimentos reais diante de uma realidade predominantemente imagética, virtual e fugaz.
Cleusa Peralta Castell expõe infografias que fazem parte de um conjunto de ilustrações que elaborou para um livro publicado pelo NEMA - e que estão inevitavelmente ligadas às experiências e pesquisas de caráter pedagógico e socioambiental que desenvolve.
Michael Chapman, por sua vez, elege dentre seus trabalhos, os pôsteres infográficos concebidos a partir do propósito de dialogar em situações de conflito estético, ideológico e lingüístico (uma atividade que vinha desenvolvendo no Exploding Galaxy, exemplificadas nas declarações ‘Não existem dois elefantes iguais’, ‘Eu sou Não Sou’ e ‘Meu nome é Sem Nome’).
Ana Maio participa com o vídeo intitulado “O que resiste ao tempo?”, uma montagem construída a partir de frases-cartazes que recebeu de presente da artista Maria Ivone dos Santos.
Claudio Maciel, por seu turno, apresenta Dreamspeed I. Quatorze peças, de dimensões variadas, em fotografia digital, compostas pela justaposição e ou sobreposição de duas ou mais imagens provenientes de realidades distintas: uma vista do interior numa manhã com neblina, outra da imagem reproduzida sobre a superfície de uma lâmina de alumínio numa manhã de sol.
Ivana Maria Nicola Lopes traz à luz nesta exposição, objetos de sua história pessoal. Objetos carregados de memória como um muito antigo caderno de desenho encontrado em uma gaveta, e miniaturas do cotidiano.
Marcelo Calheiros expõe algumas peças da série denominada ´... a pele da minha infância...!. São objetos (opacos e translúcidos) transformados e reestruturados (forma, função, estética) a partir do uso da massa de modelar e das condições do lugar onde serão serem colocados.
Enfim, está é uma exposição constituída de práticas artísticas aparentemente muito diferentes entre si, mas que tem em comum, de uma maneira ou de outra, o fato de que atuam na variedade e na ausência de fronteiras disciplinares, e especialmente se encontram conectadas às circunstâncias e problemáticas estéticas e socioculturais contemporâneas.
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Teresa Lenzi
Julho 2008
1. Beatriz Sarlo, El Lugar del Arte, in FABRIS, Annateresa. Percorrendo veredas: hipóteses sobre a arte brasileira atual. REVISTA USP, São Paulo, n. 40, dezembro/fevereiro, 1998-99, p. 68-77.
2. idem. Francesca Alinovi, L’Arte Mia in L’Arte Mia, Bologna, II Mulino, 1984, pp.43-7.
2. idem. Francesca Alinovi, L’Arte Mia in L’Arte Mia, Bologna, II Mulino, 1984, pp.43-7.
Rose, adorei o blog! Mesmo criando o site, poderias mantê-lo. A idéia e o IDEA estão de parabéns! Beijos, Rita
ResponderExcluirRoseli achei ótima a tua iniciativa de criar o blog.
ResponderExcluirFicou super bom, e dá a oportunidade dos ex alunos e de pessoas que não estão envolvidas no espaço da universidade no momento, ficarem por dentro do que está rolando no espaço IDEA.
Parabéns